Os tanicitos são células bipolares que ligam o líquido cefalorraquidiano (CSF) aos capilares sanguíneos do sistema porta.
O termo tanicito foi criado por Horstmann em 1954 quando ele descreveu uma característica estrutural distinta das células da glia presentes no hipotálamo, que era a presença de um único processo basal, que se projeta ao longo do interior do hipotálamo.
Durante os anos 1970 e 1980, os tanicitos foram objetos de muitas publicações de pesquisa, que vão desde a sua morfologia até a sua função. Mas a falta de ferramentas metodológicas parou a pesquisa, levando a divergências entre pesquisadores sobre o papel destas células.
Os tanicitos compartilham algumas características com as células da glia radial e os astrócitos. A sua forma e localização têm levado alguns autores a considerá-las como células da glia radial que permanecem no hipotálamo ao longo da vida, porém eles também apresentam certas características que os distinguem das células da glia radial.
Os tanicitos em ratos começam a se desenvolver nos dois últimos dias de gestação e continuam até chegarem a sua plena diferenciação no primeiro mês de vida, enquanto que células da glia radial, por outro lado, são um componente chave do cérebro embrionário. Tanicitos também contêm muitas proteínas que não são encontrados em células da glia radiais e essas evidências sugerem que tanicitos são descendentes genealógicos de células da glia radial que não desenvolveram em astrócitos, mas sim em sua própria subpopulação.
Células da fome? Células-tronco?
Por: Michael Luiz.
Imagem demonstrando tanicitos presentes na parede do terceiro ventrículo do hipotálamo (vermelho), onde também são obersados astrócitos perivasculares (verde). Em azul estão marcadas os núcleos das células.
Author: Michael Luiz.
Tanicitos.
Os tanicitos podem ser classificados com base em sua morfologia, ou melhor dizendo, na extensão de seus prolongamentos e na posição na parede do terceiro ventrículo.
Desta forma, eles são classificados em quatro tipo de populações: tanicitos alfa 1, tanicitos alfa 2, tanicitos beta 1 e tanicitos beta 2. Além disso, essas populações diferem na expressão de algumas proteínas específicas, tais como glicose, transportadores de glicose e prostaglandinas. Além disso, estudos mostram que dentro de uma mesma população, os tanicitos podem expressar diferentes proteínas, e apresentarem diferentes funções, já sendo levantada a classificação de sub-populações. Por exemplo, tanicitos alfa2 podem ser divididos em um grupo que expressa a GFAP, os tanicitos alfa2 dorsal, e um grupo que não expressa a GFAP, os tanicitos alfa 2 ventral.
Esses diferentes tipos de tanicitos apresentam diferentes funções. Enquanto que os tanicitos alfa (1 e 2) não possuem propriedades de barreira, os tanicitos beta (1 e 2) possuem. Eles também apresentam diferentes mecanismos para internalizar e transportar moléculas via endocitose do CSF. Existem também diferenças na relação entre neurônios e tanicitos, onde tanicitos beta são inervados por neurônios peptidérgicos e aminérgicos, enquanto que os tanicitos alfa não.
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Entrevista
Sugestão de leitura
Polarized endocytosis and transcytosis in the hypothalamic tanycytes of the rat.
[Cell Tissue Res..] 2004.
Autores: Peruzzo B., Pastor F.E., Blázquez J.L., Amat P., Rodríguez E.M.
[J Neurochem.] 2003.
Autores: García M. e colaboradores.
Distribuição glial da superóxido dismutase no terceiro ventrículo do cérebro de rato, com destaque para o corpo celular de um tanicito.
FUNÇÕES
Nicho neurogênico
Durante muito tempo acreditou-se que novos neurônios não eram formados ao longa da vida adulta. Depois, viu-se que a neurogênese era possível em duas regiões no cerebro de roedores: no bulbo olfatório e no hipocampo. Hoje além disso, estudos recentes mostram que a formação de novos neurônios também ocorre no hipotálamo, onde eles podem participar da regulação da ingestão alimentar e recentes estudos apontam que a obesidade pode estar relacionada a uma desregulação desse evento neurogênico.
Já é consumado que novos neurônios são formados no hipotálamo, o que se discute agora e qual célula da glia que origina estes neurônios. Recentes trabalhos têm mostrado que tanicitos beta 2 podem ser a fonte dessas novas células, enquanto que outros trabalhos mostram eles poderiam ser originados por polidendrócitos ou células tronco neuronais.
Apessar de não encerrado o debate, é fato que os tanicitos podem se diferenciar em neurônios dentro do hipotálamo e que estas novas células se integram no controle do circuito metabólico, expressando moléculas chaves para o controle da ingestão de alimentos, tais como neuropeptídeo Y, alfa-MSH, receptor de leptina).
Young neurons marked with doublecortin.
fonte: www.flickr.com.
Tanycytes of the hypothalamic median eminence form a diet-responsive neurogenic niche.
[Nat Neurosci.] 2012.
Autores: Lee DA e colaboradores.
Regulação do metabolismo energético
Os tanicitos encontram-se numa posição privilegiada dentro do hipotálamo, com seu corpo celular em íntimo contato com o líquido cefalorraquidiano (LCR) e os prolongamentos em contato com os capilares sanguíneos. Desta forma, eles podem perceber as variações de moléculas no LCR, e então transmitir essas informações para os capilares localizados no parênquima hipotalâmico.
Além disso, estudos também mostram que tanicitos apresentam receptores de leptina (ObRb) além de transportadores de glicose (GLUT-1 e GLUT-2). A leptina é um dos principis hormônios do corpo envolvida na regulação da ingestão de alimentos. Quando o organismo está em estado de saciedade (isto é após a alimentação), a leptina aumenta, e com isso ela evita a alimentação e aumenta o gasto de energia. Ao contrário, quando a leptina está baixa, o organismo diminui o gasto energético e aumenta o consumo de alimentos.
Antigamente acreditava-se que a leptina agia principalmente na modulação do comportamento alimentar sobre os neurônios do núcleo arqueado, uma região do hipotálamo, porém mais tarde descobriu-se que outras regiões do hipotálamo também apresentam neurônios com receptor para leptina, e a presença destes mesmos receptores em tanicitos indicam que eles também estão sob ação direta da leptina.
Não somente isso, tanicitos também apresentam transportadores de glicose, captando este hormônio diretamente da corrente sanguínea e passando para os neurônios próximos.
Food is the energy source for the body.
fonte: http://en.wikipedia.org/
Hypothalamic tanycytes: potential roles in the control of feeding and energy balance.
[Trends Neurosci.] 2013.
Autores: Bolborea M & Dale N.
Controle da liberação de hormônios
Como já mencionado, os tanicitos são células bipolares que ligam o líquido cefalorraquidiano (LCR) aos capilares porta da eminência média (EM) e podem assim vincular o CSF à eventos neuroendócrinos. Quatro populações de tanicitos, α1,2 e β1,2, podem ser distinguidas.
Estes subtipos expressam diferentes moléculas funcionais importantes, tais como glicose e transportadores de glutamato, uma série de receptores de neuropeptídeo e hormônios periféricos, moléculas secretoras (tais como fatores de crescimento transformadores, prostaglandina E2, a proteína específica P85), além de proteínas das vias de endocitose. Isso resulta em diferenças funcionais entre os quatro subtipos de tanicitos.
Assim, os tanicitos α1,2 não têm propriedades de barreira, enquanto os tanicitos β1,2 possuem. Diferentes tipos de tanicitos usam diferentes mecanismos para internalizar e transportar moléculas de carga (compostos internalizados através de uma endocitose dependente de clatrina). Os tanicitos podem também participar da liberação do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) para o sangue. Para isso eles expressam receptores de estrogênio, absorvem as moléculas do CSF, e fornecem sinal para os neurônios GnRH, e quando os tanicitos são removidos, o pulso de libertação da GnRH no sangue, o pico do hormônio luteinizante e a ovulação são impedidos.
Além disso, a descoberta em tanicitos de novas moléculas funcionais está abrindo um novo campo de pesquisa. Desta forma, a tiroxina desiodase do tipo II, uma enzima geradora de triiodotironina (T3), a partir de tiroxina, parece ser expressa exclusivamente por tanicitos, sugerindo que estas células são umas das fontes de T3 para o cérebro. Canais de K + glucose transporter-2 (GLUT-2), um transportador de baixa afinidade de glicose/frutose e sensível a ATP, são expressos por tanicitos, sugerindo que eles também podem detectar as concentrações de glicose no CSF.
Follicle-stimulating hormone.
fonte: http://en.wikipedia.org/.
Hypothalamic tanycytes: a key component of brain-endocrine interaction.
[Int Rev Cytol.] 2005.
Autores: Rodríguez EM.
Neuronal-glial-endothelial interactions and cell plasticity in the postnatal hypothalamus: implications for the neuroendocrine control of reproduction.
[Psychoneuroendocrinology.] 2007.
Autores: Prevot V. e colaboradores.
Sobre o autor: Michael Luiz é atualmente é aluno de Doutorado pelo FISCLINEX (2012-atual), atuando na investigação da programação metabólica e seus efeitos na neurogênese e gliogênese.